A chegada do verão e das altas temperaturas traz uma dúvida recorrente para motoristas de carros flex: gasolina ou etanol, qual combustível rende mais no calor intenso? A escolha, que normalmente se baseia na famosa “regra dos 70%”, pode ser influenciada por fatores técnicos que se intensificam com o aumento da temperatura. Este artigo apresenta uma análise detalhada das propriedades de cada combustível e seu comportamento sob o calor, para ajudar você a tomar a decisão mais eficiente para o seu veículo e para o seu bolso.
Propriedades fundamentais: gasolina vs. etanol
Para entender qual a melhor opção, é preciso primeiro conhecer as características físico-químicas de cada combustível, que determinam seu rendimento e comportamento no motor.
Gasolina (Comum e Aditivada)
Poder Calorífico: A gasolina possui um poder calorífico superior, de aproximadamente 32 MJ/L (megajoules por litro). Isso significa que cada litro de gasolina armazena mais energia, o que se traduz, na prática, em maior autonomia (quilômetros por litro).
Volatilidade: É menos volátil que o etanol. Sua taxa de evaporação é mais baixa, uma característica importante quando o tanque de combustível é aquecido pela temperatura ambiente elevada.
Densidade: Ligeiramente menos densa que o etanol.
Etanol Hidratado
Poder Calorífico: O etanol tem um poder calorífico inferior, cerca de 22,7 MJ/L. Por essa razão, o consumo do veículo é naturalmente maior com etanol, exigindo que o sistema de injeção forneça um volume maior de combustível para gerar a mesma energia que a gasolina.
Volatilidade: É um combustível altamente volátil. Evapora com muito mais facilidade, especialmente sob calor, o que pode levar a perdas significativas antes mesmo da queima no motor.
Calor Latente de Vaporização: O etanol tem um alto calor latente de vaporização. Ao passar do estado líquido para o gasoso dentro do coletor de admissão, ele “rouba” calor do ar, resfriando a mistura ar-combustível.
O impacto do calor no rendimento e no motor
As altas temperaturas afetam diretamente o comportamento dos combustíveis, desde o armazenamento no tanque até a queima nos cilindros. O calor intenso do verão expõe as vantagens e desvantagens de cada um.
O principal vilão do rendimento no calor é a evaporação. O sistema de alimentação de um carro moderno conta com um cânister, um filtro de carvão ativado que absorve os vapores de combustível para queimá-los posteriormente no motor, evitando que sejam liberados na atmosfera. No entanto, em dias de calor extremo, a taxa de evaporação do etanol pode sobrecarregar a capacidade do cânister, resultando em perdas reais de combustível por evaporação. A gasolina, por ser menos volátil, sofre menos com este problema.
Por outro lado, a propriedade do etanol de resfriar a mistura ar-combustível se torna uma vantagem em dias quentes. Uma mistura mais fria é mais densa, permitindo que mais oxigênio entre na câmara de combustão. Isso pode resultar em uma queima mais eficiente e um leve ganho de performance, além de ajudar a prevenir a pré-ignição, conhecida como “batida de pino”. Motores com alta taxa de compressão, especialmente os turboalimentados, podem se beneficiar desse efeito.
Análise de custo-benefício: a regra dos 70% no verão
A regra padrão para decidir entre gasolina e etanol é simples: se o preço do litro do etanol custar até 70% do preço do litro da gasolina, o álcool é financeiramente mais vantajoso. Este cálculo se baseia na diferença de poder calorífico entre os dois. Contudo, o fator de evaporação no calor intenso pode alterar essa matemática.
Como o etanol evapora mais facilmente, parte do combustível que você coloca no tanque é perdida antes de ser utilizada. Essa perda não é contabilizada na bomba de combustível nem no computador de bordo. Portanto, para uma análise mais precisa no verão, pode ser prudente ajustar o cálculo.
Gasolina
Prós: Maior rendimento por litro e menor perda por evaporação em altas temperaturas.
Contras: Preço por litro mais elevado.
Etanol
Prós: Preço por litro mais baixo e potencial de melhor performance devido à refrigeração da admissão.
Contras: Maior consumo e perdas significativas por evaporação no calor, que reduzem o rendimento real.
Considerando as perdas por evaporação, a paridade de 70% pode não ser suficiente para garantir a vantagem do etanol no calor extremo. Uma margem de segurança, utilizando um fator de 65% a 68%, pode oferecer um reflexo mais fiel do custo-benefício real durante os meses mais quentes do ano.
Para a maioria dos motoristas focados em máxima autonomia e previsibilidade de custos, a gasolina tende a ser a escolha mais racional durante o calor intenso. As perdas por evaporação do etanol podem anular a economia obtida na bomba. Já para quem busca extrair a máxima performance do motor e não se preocupa tanto com pequenas variações de consumo, o etanol pode continuar sendo uma opção interessante, especialmente se seu preço estiver bem abaixo do limite de 70% em relação à gasolina. A decisão final deve ponderar o preço na bomba, seu estilo de condução e as prioridades de uso do veículo.
BAND/UOL






