O Pantanal teve a maior quantidade de focos de incêndio já registrada no primeiro semestre desde 1988, quando as queimadas começaram a ser monitoradas por satélites pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Entre 1º de janeiro e 23 de junho deste ano, foram detectados 3.262 queimadas, um número 22 vezes maior que o registrado no mesmo período do ano passado (+2.134%), segundo dados do instituto.
Este ano, o Pantanal bateu também o recorde de queimadas ocorridas no primeiro semestre de 2020. Naquele ano, foram 2.534 focos entre janeiro e junho e, ao fim de 12 meses, o fogo atingiu 22.116 focos.
Aproximadamente 26% do Pantanal foi consumido pelo fogo, afetando pelo menos 65 milhões de animais vertebrados nativos e 4 bilhões de invertebrados, de acordo com o levantamento.
De acordo com especialistas, o aumento das queimadas no Pantanal em 2024 está ligado principalmente à crise climática, uma vez que o bioma enfrenta seca severa. As chuvas escassas e irregulares nos primeiros meses de 2024 foram insuficientes para transbordar os rios e conectar lagoas e o rio Paraguai, principal rio do bioma, que teve níveis baixos para esta época do ano.
“Uma combinação de fatores tem colaborado para o aumento das queimadas no Pantanal. Podemos destacar as alterações climáticas, o desmatamento na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, além da atuação do El Niño, que traz um período mais seco para as regiões do Centro-Oeste brasileiro. Todos esses elementos afetam diretamente o ciclo de chuvas e o acúmulo de água no território”, afirma Cyntia Santos, analista de Conservação do WWF-Brasil.
Além das mudanças climáticas, as queimadas no Pantanal também estão associadas à ação humana no Cerrado, devido à interconexão entre os biomas. O desmatamento no Cerrado do Planalto, onde estão as cabeceiras dos rios que abastecem a Planície Pantaneira, contribui para a seca extrema no Pantanal.
Cyntia Santos ressalta que é necessário um olhar sistêmico para o bioma. “As cabeceiras do Pantanal, por exemplo, são áreas prioritárias para a preservação e restauração do bioma, e elas estão no Cerrado, que conecta áreas importantes da Amazônia. Todos esses biomas vêm sendo sistematicamente desmatados. Precisamos de um esforço conjunto para controlar o desmatamento e recuperar áreas degradadas, de forma que possamos aumentar a resiliência das espécies que enfrentam as intempéries climáticas”, afirma.
Governo gastará o necessário para combater incêndios
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou na segunda-feira (24) que o governo fará os investimentos necessários para combater os focos de incêndio no Pantanal. A fala ocorreu após uma reunião na sala de crise sobre os incêndios. Ao todo, 19 ministérios estão envolvidos nas ações contra o desmatamento, incêndios e seca.
“Iremos gastar o necessário para combater os focos de incêndio. Sabemos que será um gasto infinitamente menor que o que está sendo gasto agora no Rio Grande do Sul, mas precisamos da conscientização da população sobre o que está acontecendo”, afirmou Tebet.
O mecanismo, criado há 10 dias, é coordenado pela Casa Civil e tem a participação dos ministérios do Meio Ambiente, Integração, Defesa e Justiça. Além do Pantanal, o bioma Amazônico também é monitorado.
A Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o governo já previa um ano mais severo para o Pantanal. “Em abril, decretamos emergência e contratamos brigadistas. Temos 175 brigadistas do Ibama, 40 do Instituto Chico Mendes, tropas da Marinha e 250 pessoas operando no território, além do apoio dos estados. Teremos um adicional de 50 brigadistas do Ibama e também da Força Nacional”, afirmou a ministra.
“Tivemos a segunda reunião da sala de situação sobre a estiagem na Amazônia e no Pantanal. Na Amazônia, isso implica esforços de logística e abastecimento, enquanto no Pantanal lidamos com incêndios. O Ministério do Meio Ambiente vem trabalhando desde outubro do ano passado e já estamos operando com plenas condições de ação. A sala de crise já está montada”, disse Marina.
Estado de emergência
O governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), decretou situação de emergência no estado devido aos municípios afetados por incêndios florestais. A medida foi adotada para buscar uma atuação mais rápida do estado nas regiões afetadas pelas chamas, como parques, áreas de proteção e preservação nacionais, estaduais ou municipais. O decreto foi publicado na segunda-feira (24) no Diário Oficial do MS, e tem vigência de 180 dias.
Neste período, o governo fica autorizado a mobilizar todos os órgãos estaduais para atuar sob a coordenação da Defesa Civil, em ações que envolvam resposta ao desastre, reabilitação do cenário e reconstrução. Em caso de risco iminente do fogo, por exemplo, os socorristas poderão entrar nas casas para prestar socorro, determinar a evacuação e acessar propriedades particulares.
Com o decreto, o estado também fica dispensado de realizar licitações nos casos de emergência ou calamidade pública, quando caracterizada urgência, para não comprometer a continuidade dos trabalhos em relação a obras, aquisição de equipamentos e serviços.
A emergência foi decretada devido ao período de seca prolongada enfrentada no Mato Grosso do Sul, com estiagem na maior parte do território e aumento dos focos de calor. O estado também vem sofrendo com os impactos das queimadas para agropecuária pantaneira.
Atuação do estado
O governo do Mato Grosso do Sul atua em várias frentes para combater os incêndios florestais, principalmente nas áreas do Pantanal. Lá, as equipes fazem um trabalho integrado pelo ar (com aeronaves e helicópteros) e no solo, com bombeiros, brigadistas e a cooperação dos pantaneiros, para chegar aos incêndios e combatê-los.
O trabalho articulado usa tecnologia para identificar os focos de incêndio e direcionar as equipes. Todas as ações são coordenadas pelo SCI (Sistema de Comando de Incidentes), que passa as orientações para atuação no campo e pelas aeronaves. Além de imagens de satélite, drones são usados para identificar os incêndios.