O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta segunda-feira (27/10), que a reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi “surpreendentemente boa” e ficou clara a disposições das duas partes em fazer acordo. “Se depender do Trump e de mim, vai ter acordo”, afirmou.

Em entrevista a jornalistas, na Malásia, o presidente afirmou que a expectativa é que em pouco tempo se chegue a uma solução. “Ele garantiu que vamos ter acordo e acho que vai ser mais rápido do que muita gente pensa. Estou convencido de que em poucos dias teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil para que a vida siga boa e alegre como dizia Gonzaguinha na sua música”.

Lula e Trump se reuniram na Malásia neste domingo (26). O brasileiro disse que teve a “boa impressão” de que relação de afinidade entre Brasil e Estados Unidos será retomada e logo-logo não haverá problema entre os dois países.

Acho que está estabelecida a relação Brasil-Estados Unidos, quem imaginava que não ia ter, perdeu, Vai ter e vai ser uma relação produtiva para os dois países e para a democracia”, observou o presidente.

Na conversa, Lula disse que expressou ao presidente norte-americano que as diferenças ideológicas entre eles devem ser superadas em benefício dos brasileiros e norte-americanos. “Agora não tem mais intermediários, é o presidente Lula com o presidente Trump. Gostemos ou não um do outro, nós temos que assumir a responsabilidade como chefes de Estado de saber que nossas ações têm que trazer benefício para o povo que nos elegeu”.

Posição brasileira
Durante a reunião, Lula entregou por escrito a Donald Trump as reivindicações do Brasil. Ele citou a revogação do tarifaço e da punição a autoridades brasileiras, a tensão entre Estados Unidos e Venezuela e a guerra da Ucrânia. Lula disse ter deixado claro que a decisão de impor tarifas elevadas à exportação de produtos brasileiros foi tomada com base em informações equivocadas.

“Não estou reivindicando nada que não seja justo para o Brasil e tenho do meu lado a verdade. Os Estados Unidos não tem déficit com o Brasil, que foi a explicação da famosa taxação ao mundo. Os Estados Unidos só iriam taxar países com os quais ele tivesse déficit comercial”, ressaltou Lula.

Para Lula, é preciso que haja a suspensão da taxação para que as negociações comecem do zero. Ele informou que na próxima semana representantes dos dois países devem se reunir em Washington.

Venezuela
Lula avaliou que é possível encontrar uma solução para a tensão entre Estados Unidos e Venezuela caso haja interesse em negociar e expôs a Trump sua disposição para ajudar.

Não queremos que haja guerra na América do Sul. Nossa guerra é contra a pobreza, contra a fome. Se não conseguimos resolver o problema da fome, como fazer guerra? Pra matar os famintos?”, disse.

Questões políticas
Questionado se a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro foi tratada na reunião já que foi um dos argumentos usados pelo governo norte-americano para taxar o Brasil, Lula disse ter explicado a Trump que o julgamento de Bolsonaro foi sério e com provas contundentes.

E disse ter detalhado a gravidade dos fatos atribuídos ao ex-presidente e demais condenados pelos atos do 8 de janeiro. “Eles foram julgados com o direito de defesa que eu não tive quando fui processado e, portanto, isso não está em discussão. E ele sabe que rei morto, rei posto. O Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira”, afirmou.

Segundo Lula, qualquer discussão de natureza política será feita entre presidentes, aos negociadores caberão os temas de interesse das duas nações.

ARGUMENTO SÓLIDO – Lula relatou que entregou a Donald Trump um documento que mostra com clareza o equívoco do argumento de que a balança comercial dos Estados Unidos com o Brasil era deficitária. “Fiz questão de dizer a ele que eram infundadas as informações de que os Estados Unidos tinham déficit comercial com o Brasil. Nós provamos que houve superávit de 410 bilhões de dólares em 15 anos. Só no ano passado foram quase 22 bilhões de dólares de superávit para os Estados Unidos. Em todo o G20 só há três países em que os Estados Unidos são superavitários: Brasil, Reino Unido e Austrália”, reforçou Lula.

SEM VETOS – O presidente explicou que ainda não houve, por parte dos norte-americanos, uma apresentação de potenciais contrapartidas para entrar numa mesa de negociação, mas enfatizou que não existem temas proibidos. “Se ele quiser discutir a questão de minerais críticos, de terras raras, se quiser discutir etanol, açúcar, não tem problema. Eu sou uma metamorfose ambulante na mesa de negociação. Coloque o que quiser que eu estou disposto a discutir todo e qualquer assunto”.

PLURALIDADE – Lula também reforçou que o Brasil mantém a postura de ampliar a rede de comércio exterior do país com o maior número de nações amigas possíveis, numa postura de aposta no livre-comércio e no multilateralismo. “Não temos preferência. Quero continuar tendo uma belíssima relação com a China, com os Estados Unidos, com a União Europeia, porque é importante lembrar que, depois de 22 anos, vamos em dezembro fazer o acordo União Europeia e Mercosul. E também estamos fazendo acordo para a Indonésia com o Mercosul, para a Malásia, para a ASEAN. O nosso negócio é fazer negócio.

NOVO ENCONTRO – Segundo o líder brasileiro, a possibilidade de um novo encontro entre ele e Trump não está descartada. “Ele me disse que está com vontade de ir ao Brasil, eu disse que estou à disposição para ir a Washington, porque se tem uma coisa que aprendi a fazer na vida foi negociação. Vamos à estaca zero e voltar para o seguinte: aonde queremos chegar? Se houver a disposição do presidente Trump, como ele disse que tem de fazer um bom acordo com o Brasil, temos toda a intenção de fazer um bom acordo, não haverá problema para a relação entre as duas maiores democracias do Ocidente”.

LEI MAGNITSKY — No domingo, durante o encontro com Trump, Lula também citou a Lei Magnitsky, utilizada pelos Estados Unidos para impor sanções a autoridades estrangeiras. Segundo o presidente, a aplicação em relação a ministros do Supremo Tribunal Federal é “injusta”, uma vez que “respeitou-se o devido processo legal e não houve nenhuma perseguição”.