Cerca de 73% dos brasileiros buscam informações sobre ciência, tecnologia, saúde e meio ambiente nas redes sociais, aplicativos de mensagens e/ou plataformas digitais. O dado é da Pesquisa de Percepção Pública da Ciência, divulgada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Porém, também segundo o levantamento, 50,8% dos entrevistados afirmam se deparar com frequência com notícias que lhes parecem falsas nas plataformas digitais.

Esses dados alertam para a necessidade de discutir e adotar os preceitos da integridade da informação. O diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Tiago Braga, explica que isso significa considerar a precisão, a consistência e a confiabilidade das notícias. “Garantir a integridade da informação é garantir que o conteúdo que chega para a sociedade não esteja manipulado artificialmente a fim de apresentar uma realidade diversa da que existe.”

A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou em 2023 um informe sobre a integridade da informação nas plataformas digitais destacando que os países têm se comprometido com a veracidade da informação. Os especialistas apontam a necessidade de criar políticas públicas de incentivo à popularização da ciência. Tiago Braga acredita que é preciso fazer com que a sociedade compreenda o que é a ciência e se interesse pelo tema desde a primeira infância.

A presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Denise Pires, aponta que só é possível combater o que se identifica. “É por meio da ciência de qualidade, baseada na metodologia científica, que enfrentamos a desinformação. Os controles precisam ser baseados em evidências científicas.”

A diretora de Análise de Resultados e Soluções Digitais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Débora Peres Menezes, completa que o primeiro passo para o enfrentamento às notícias falsas é a regulamentação das redes. “Além disso, é preciso convencer os cientistas a baixarem a linguagem e incentivar os jornalistas a escreverem matérias de qualidade sobre o que está sendo desenvolvido na ciência brasileira com uma comunicação de entendimento público”, pontua.

O combate à desinformação é um desafio social e educativo. Citando o livro Violeta (2025), o coordenador de Comunicação Integrada do CGEE, Jean Campos, destaca que “a ciência só cumpre o seu papel transformador quando dialoga com a sociedade”. Ele compara os resultados das últimas Conferências Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação para destacar como a desinformação passou a ser reconhecida como um problema público. Em 2010, o Livro Azul, da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, já apresentava políticas de popularização da ciência, mas não mencionava o termo desinformação. Já em 2025, o Livro Violeta trata o tema como questão central, e o termo aparece 17 vezes, segundo o levantamento de Campos.

Como identificar notícias falsas
Analise se a fonte é segura: evite links e sites desconhecidos. Procure portais de notícias oficiais
Confira antes de compartilhar: é importante verificar se a informação foi divulgada em outros sites. Se ela for verdadeira, estará em outros portais de notícias com credibilidade
Não leia apenas o título: muitas notícias levam um título chamativo ou enganoso. É importante ler a matéria completa
Consulte as fontes: confira se as citações divulgadas pela matéria realmente existem. Busque em sites de confiança
Verifique a data de publicação: uma prática comum da desinformação é a divulgação de notícias verdadeiras, mas antigas. Olhe sempre a data em que foi publicada
O impacto das informações falsas
Conforme a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o significado de desinformação se refere a todo conteúdo falso ou enganoso que pode causar danos específicos, independentemente de motivação, consciência ou comportamento. O coordenador de Comunicação Integrada do CGEE, chama a atenção para o fato de que a desinformação não é apenas um fenômeno técnico, mas político, e deve ser entendida dentro do contexto da desordem de informações.

De acordo com a Unesco, os conteúdos enganosos impactam todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de temas essenciais como vacinação, democracia e aquecimento global.

Débora Peres, do CNPq, lembra que lidar com as informações falsas não é um desafio recente. “Na época em que Carlos Chagas quis implementar a vacina no Rio de Janeiro, já havia pessoas que plantavam notícias falsas. Mas, agora, com o advento das mídias sociais, toma-se uma dimensão muito maior”, explica.

As informações falsas são perigosas e colocam em risco a saúde da população. Débora diz que a ciência e a desinformação estão ligadas principalmente pelo negacionismo. Além do movimento antivacina, há a negação das alterações climáticas.

“Existe um consenso científico de que estamos passando por uma mudança climática extrema, que vai gerar consequências. A sociedade vai precisar se organizar para enfrentar esse aquecimento global, mas vemos muitas notícias desinformativas a respeito desse assunto”, relata a diretora.

Além da velocidade com que as informações falsas são compartilhadas nas redes sociais, há a dificuldade de identificar e rastrear a origem ou mapear o alcance. “Isso faz com que o processo desinformativo ocorra de forma desenfreada ou descontrolada, atrapalhando políticas públicas e o exercício dos direitos difusos”, complementa Braga.